sábado, 20 de outubro de 2012

Ser, sem

Pó de canela com sal, água suja e vinho amargo. A agonia sabe a sangue seco, a amargura da vida sabe a metal enferrujado. O mundo não é o mesmo, torna-se em pó, o pó torna-se grão, grão em estrela, estrela em fogo que arde e desaparece. O sol não aquece e o gelo não é capaz de arrefecer mais o tempo que faz na minha cabeça. O sangue pode escorrer pelas veias, pode passar pelos órgãos, mas sem sentido, sem noção do que faz, sem satisfação de o fazer. No chão já não se chora, na cama já não se dorme, a música já não transmite sentimento. A lareira não aquece os meus pés gelados de tanto caminhar, a lua já não me emociona com a sua beleza. A estrada sem destino já não é utilizada, as botas estão gastas, a terra está calma, ninguém anda. ninguém vê, ninguém me sente, ninguém se importa. O vento já não levantas as folhas no chão, o silêncio não existe, os barulhos das ruas são altos mas abstractos, passam por mim como se fossem um nada num grande vazio. As roupas não me servem, não são confortáveis, o álcool já não agrada, o tabaco já se queimou e tornou-se cinza esquecida. As estrelas perderam o brilho, os lápis não pintam bem o teu retrato, a borracha não apaga os erros cometidos. As facas afiadas já não matam, a sede não se escasseia e a fome não aparece. É seco, húmido, esvaísse em terra pelos cantos. Não é seguro e o cheiro a fumo invade cada compartimento. A madeira já apodreceu, a noite já morreu, os carros parados emitem perigo. Os animais nem falam, não respondem, sentam-se e vêem o sol esconder-se atrás das montanhas. 
Canções de amor já não fazem sentido, amar não é real, nada é real. Momentos foram, que eram, serão relembrados, momentos passados que vivemos não passaram de felicidade. As folhas tornam-se azuis, o paraíso encontra-se na terra, os ossos já não doem e a manhã vive. Isto é uma vida sem ti. 


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