sexta-feira, 6 de abril de 2012

Primeiro dia# Outono

Hoje decidi escrever-te uma carta de despedida 

Fechei os olhos e permaneci em silêncio enquanto ansiava que as minhas mãos parassem de tremer. Peguei numa folha branca, numa pena, e em tinta negra. Presenciei o nascimento de cada frase, cujas me faziam tremer e desejar amassar a folha. Não tinha inspiração para ti, mas mesmo assim esforcei-me por escrever:

"Até agora sempre corrigi erros, sempre me esforcei para dar o meu melhor, sempre tentei lutar por um sorriso na tua cara mesmo que tudo tentá-se fazer o contrário e encher o teu rosto de lágrimas. Eu não vou estar com ideias de escrever da maneira mais poética para ti, não desta vez não. Nunca penses que foste tu, porque não foste. Foi a vida. Mas tirando palavras bonitas deste ambiente mau, preciso que cumpras todas as tuas palavras. Não, não vou estar aqui a repeti-las pois tu sabes que palavras proferiste quando vias a saudade em mim.Não me tentes puxar para um canto para que não fuja, isso não vai acontecer. Não tentes fazer com que olhe para ti mais uma vez e largue um sorriso, pois ele já fugiu há muito tempo. Não tentes me impedir de algo que eu próprio não posso fugir. Não."


Apaguei o cigarro e saí com a mala as costas.
Era de tarde, o dia estava cinzento e o nevoeiro era tão intenso que as pessoas nem saiam à rua. Estava tudo parado, não havia carros na estrada ou pessoas nos passeios. O ar estava de tal maneira gelado que era capaz de congelar ossos e tendões de qualquer um. Segui caminho no horizonte, traçando a minha própria rota, nunca pensando em olhar para trás.O meu caminho passava vales, florestas, estradas desertas, e parava num desconhecido. Provavelmente voltava para trás, mas isso era uma questão de querer e não de puder.Subi pequenas montanhas, subi e grandes pedregulhos erguidos no meio do nada, e observei os mais lindos pores-do-sol. Nada me fazia voltar para trás, pus todas as inseguranças para trás. Guardei todas as saudades dentro de um cofre e deixei-o debaixo da minha cama, num sítio longe de onde me encontrava. E de facto, onde estava? Não faço ideia.

Ao final do dia montei uma pequena tenda que levara comigo e acendi uma fogueira. Vi vários insectos a dançar com as chamas, vi o vento a imitar o som de uma tambor. Olhei para cima e reparei que as estrelas formavam constelações, e como sonhando, iam-se movendo a um ritmo pouco rápido mas mágico. Pensei ter visto um vulto a passar por mim, mas quando virei costas não vi ninguém. Estaria louco? Ri-me.










3 comentários: