sábado, 14 de dezembro de 2013

''Está a morrinhar''


Daqui deste baixo chão sou insignificante, não passo de um mero ser, uma célula movida por força, deitado num canto de sujidade. Daqui, deste mero fim de precipício sou pouco mais que pó, e que olho para cima, observo de relance todas as coisas opostas a mim, todas as coisas que cuja grandiosidade as torna tão mais altas, tão mais inúteis. Não se rebaixam perante si mesmas, não são próprias de nome, não incluem rótulos de vida em si. Mas minha pessoa sim, eu sim, parei e rebaixei a minha própria alma, de maneira concreta e sem outros objectivos, apenas me deitei no largo pavimento e presenciei tudo o que antes era inferior agora superior.

Mas muitas vezes sentamos-nos não por mera impaciência, deitamos-nos por simples e convicta reacção ao tempo, à forma como nós nos encontramos. Pois deitei-me desta vez, não para me achar no meu mundo, mas sim para repousar e deleitar algo no vazio que não conseguia carregar mais, era um fardo que eventualmente ia cair no desuso e no esquecimento. E assim foi, assim larguei como um balão soprado pelo vento e desejei que tudo parasse e pudesse naquele leito cair e descansar os meus olhos cansados e a minha mente retorcida da viagem anterior. Permiti a mim mesmo deixar nomes não nobres numa caixa oca, trancada por uma chave inexistente, deixada num lugar não conhecido.
A chuva que outrora me molhava a pálida cara, e aquele som grave e grandioso, já nada me aquecia os pensamentos de negação, já o sol me fizera parar de brilhar por algo opaco, já a neve era escassa neste mundo de tanto nevoeiro que nos fazia perder uns dos outros. Já uma brisa no céu regressava, já um raio de luz se estendia sobre mim. Aquelas pequenas coisas fúteis já não eram desprezadas, ainda as vejo quando aquele espaço me alberga nele e me deixa deitar o corpo, vejo-as de maneira majestosa, estão ai em cima, penso, sei como sou insignificante aos olhos de Deus, digo, estou onde devo estar, sei, estou bem onde estou, concluo.




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