sábado, 29 de setembro de 2012

fogo de perdição

Queria queimar o que sinto com fósforos e gasolina, para que desapareça por completo. 

Peguei no isqueiro que retratava os momentos em que a tua dor se compartilhava comigo e acendi um cigarro com sabor a amor. Puxei e vieste até mim sem remorsos mas logo travei e o fumo que mandei embora levou-te para longe como o vento leva as folhas das árvores. Estava sozinho na rua negra com frio e os ossos gelados. Vasculhei pelas ruas até encontrar um bar onde entrei. Estava quente, cheirava a tabaco e uma multidão de gente estava sentada a beber cerveja. Relembrei velhos tempos em que costumava ir para o palco de um bar parecido com aquele e alegrar os clientes com uma história. Aquele sítio era velho e lampiões pendiam do tecto.
Atravessei o grande bar e sem saber porquê sentei-me ao lado de um velho. Não falámos, não trocamos olhares, nada. Não tinha dinheiro, apenas tinha frio e sede. Por momentos olhei o velho e apercebi-me que a solidão se apoderara da vida dele. Será que queria ser assim? Não, não quero crescer, tornar-me velho e ser portador da solidão. Levantei-me, saí e corri pelas ruas infinitas até tua casa. Não poderia deixar o mal vencer e a solidão crescer. A tua janela estava aberta mas não estavas no teu quarto, portanto corri para o único sitio onde esperava encontrar-te.
A noite não deixava ver muito, apenas conseguia ouvir o som do Rio e pequenas silhuetas de luz no meu campo de visão. Não te via, não te sentia, o teu cheiro desaparecia e o nosso mundo apodrecia. Esperava sempre ver-te atrás de mim, mas lá apenas permanecia o vazio, e enquanto eu deambulava pelas sombras, estavas tu a dançar com outro ser nos teus salões de ouro, esquecendo e caindo na perdição do teu coração.

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